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Cícero Souza: “O processo de captação nas categorias de base”



Sabendo-se que o processo de desenvolvimento de um atleta de Categorias de Base dentro de um clube está dividido fundamentalmente em três etapas: captação, formação e transição, me dedico hoje a discorrer idéias e opinião própria sobre o processo de captação. É o início de tudo, é a descoberta da jóia bruta pronta para ser lapidada.

Tudo tem início com a montagem de uma equipe de captação, avaliação e prospecção. Os conhecidos olheiros ou avaliadores são os responsáveis pela análise mais abrangente de diversos pretensos atletas em potencial. Sua missão é complexa, exige olho clínico, pois distinguir os jogadores providos de muito talento e os que não possuem condições suficientes para a prática do futebol em alto nível não é tarefa difícil. Contudo ter uma análise mais detalhada de atletas que estão momentaneamente em uma faixa intermediária, mas que por diversos  motivos tenham condições de performar não é trabalho simples.

Montada essa equipe, precisamos estabelecer os critérios de avaliação. Quais são as principais características técnicas e físicas que vamos buscar em cada uma das posições ? Como queremos montar os nossos elencos e quais as quantidades de atletas por categoria que queremos trabalhar ? Tudo isso precisa ser bem claro para um avaliador para ele otimizar o seu tempo de maneira extremamente proveitosa.

Creio que outro aspecto importante é a priorização de captação dentro da região geográfica onde o seu clube se encontre. Jovens atletas oriundos de outras culturas, outros climas, outros paradigmas, outras condições sócio-financeiras e distantes de suas famílias tendem a ter problemas emocionais agudos que acabam por afetar demais o seu rendimento técnico. Quanto maior este atleta, menos a chance destes fatores externos e emocionais atrapalharem o seu desempenho.

Eis então que vamos definir os processos de captação, e eles são diversos.

Um monitoramento nos campeonatos estaduais e nas competições entre escolinhas e clubes de menor porte nas categorias mais novas é uma grande oportunidade de garimpar jovens promessas que já passaram dentro de suas comunidades por processos seletivos para serem os escolhidos de estarem ali. Dados estatísticos quanto ao desempenho de gols marcados e gols sofridos são bons indicadores de qualidade acima da média em determinadas posições.

Os centros formadores e as escolinhas que trabalham com metodologia bem definida precisam ser aproximados. Buscar uma parceria e um convênio com elas é fundamental. Precisamos criar um elo de aproximação e uma fidelização quanto a indicação dos atletas de destaque. Precisamos promover amistosos contra estes centros e escolinhas. Precisamos visitá-los com freqüência. Precisamos manter o contato intermitente.

Franquear Escolinhas também pode ser uma idéia que além de visar a captação, possa garantir uma receita ao clube. Este projeto precisa ter alicerce jurídico mas minimizar ao máximo a ação de atravessadores que possam tentar levar os atletas de destaque para outros clubes, que não o gerenciador da franquia. Com esta idéia nossa marca e nossa metodologia são padronizadas e o grau de excelência se aproxima.

Estruturar as avaliações abertas, as chamadas peneiras é um passo importante a ser atingido na realidade brasileira. Precisamos escolher bons profissionais, fardá-los apropriadamente, equipá-los com material de qualidade. Temos que buscar bons gramados, redes com goleiras, planilhas com índices de avaliações. Os critérios precisam ser definidos antes dos testes e as avaliações precisam ser divulgadas perante esses conceitos.

Por fim o departamento de captação precisa saber de quanto dispõe financeiramente para fazer todos os seus aportes : viagens, hospedagens, divulgação e até mesmo para a compra de direitos econômicos e federativos ( embora essa etapa seja gerenciada pelo executivo de futebol ).

Tudo isso posibilita uma busca mais abrangente, um risco menor de avaliações incorretas e a democratização dos processos, pois todos independente da sua condição financeira terão a possibilidade de serem avaliados. No Brasil ainda vivemos muito do olhar empírico que se limita a dizer que determinado jovem “joga demais” ou “não joga nada”. Eis o passo inicial : a quebra deste paradigma.

Cícero Souza é Executivo de Futebol do Sport Club do Recife